quarta-feira, 27 de maio de 2009

UMA FESTA PARA LÁ DE MINONA





































Começo esta reportagem pelo Estado Judeu, falando de uma celebração pouco conhecida pela comunidade brasileira e, com ela, vou criando uma nova idéia de Eretz Israel.
Minona é uma festa 100 % sefaradi marroquina, que tive o prazer de vivenciar em minha comunidade em Manaus, também em Rio de janeiro e Buenos Aires, porém sempre faltava conhecer a versão originalmente israelense, sendo que Minona está no calendário do país e todo israelense a deve conhecer.
Deixemos de perca de tempo e passemos aos artigos do historiador e professor David Salgado, grande estudioso dos costumes sefaradi marroquino em Israel, para sorte comunidade brasileira.
Assim contou David em um de seus artigos:
O primeiro ponto que mais me intrigava era a origem deste nome: Existem muitas explicações e a mais comum é a que Minona vem do nome de Rabi Moshe ben Mimon, pai de Rambam, e que havia falecido exatamente neste dia, no qual comemoramos tal festa.
Outra explicação afirma que o nome Minona vem da palavra árabe “mimon” que significa “sorte ou sucesso”, porque se acredita que, nesta noite, os portões dos céus estão abertos, e que D-us recebe toda oração e pedido, trantando-se de um dia de muita sorte. É também por esse motivo, que na noite de Minona comemos e decoramos a mesa com coisas que lembram bênção, simbolizam sorte e abundância como: mel, leite, trigo, ramalhetes verdes (espigas de trigo), peixes e doces. O cumprimento mais comum nesta noite é o desejo de “Sucesso e Boa Sorte”.
Um terceiro motivo para esta festa nasce do hebraico, com a palavra Emuná (Fé), que tem sua raiz bem próxima à palavra Minona. A primeira gueulá (Salvação) do nosso povo aconteceu no Egito, em Nissan. Sendo que já estamos no sétimo dia de Pessach, mais da metade deste mês já passou, e ainda não veio a Salvação, celebramos e festejamos Minona para uma renovação espiritual em nossa fé na gueulá imediata do Povo de Israel, pois como sabemos, o Messias virá em Nissan.
Também gostaria de saber o porquê dessa comemoração ser exatamente no primeiro dia após Pessach? Qual a ligação de Pessach com Minona?
Apesar de há séculos Minona ser comemorada em quase todas as comunidades sefaraditas, sua origem está nas comunidades judaicas do Norte da África no século XVIII, e tinha um primeiro nome de Noite da Fé (Laila Emuná).
A saída do Egito é recordada com alegria no dia 15 de Nissan: O Faraó, após a última praga (dos primogênitos), libertou os judeus. Não demorou muito para ele se arrepender e perseguir o Povo Escolhido. Quando os egípcios chegaram às margens do Mar Vermelho, já era o sétimo e último dia de Pessach. Neste momento em que o Povo de Israel os avistou atrás de si e o mar bem a sua frente, pensaram que a saída do Egito tinha sido em vão, que eles retornariam para lá como escravos, ou morreriam ali. Mas, ao verem o gigantesco milagre que acontecia diante de seus olhos: a abertura seca e segura do mar para sua passagem, em contraste com o trágico fim dos egípcios, afogados ao longe com o retorno das águas à sua posição correta, só então acreditaram plenamente em D-us e em Moshe, seu servo. Um momento de completa fé e entrega sincera.
Portanto, se prestarmos atenção nos costumes de Minona, veremos que muitos deles têm ligação com o milagre da travessia do Mar Vermelho. Vejamos:
a) Festeja-se Minona logo após o último dia de Pessach, exatamente no dia da travessia do Mar Vermelho.
b) Costuma-se ir à praia, na manhã seguinte à noite de Minona, já que o milagre ocorreu no mar.
c) Costuma-se colocar um peixe inteiro na mesa de Minona, em lembrança da travessia do mar que, humildemente, se abriu para a passagem do Povo Judeu.
A tradição de manter a porta aberta em Minona vem do belo costume de visitar e também ser visitado pelos amigos, parentes e outros mais que apareçam, sem a necessidade de um convite. Este trânsito de pessoas nas casas também é explicado pela vontade de degustar os diferentes sabores deliciosos da mesa de Minona. Querem um motivo melhor do que esse?
Existe uma explicação histórica que diz: na noite da praga dos primogênitos, nossos antepassados no Egito fecharam suas portas após marcá-las com sangue, marca necessária para a passagem do anjo da morte, sem perdas judias. Portanto em Minona, após o Pessach, abrimos nossas portas para que a gueulá possa entrar.
A mesa para Minona tem um singular preparo e objetivo. Indiferentemente de sua origem, os costumem são aproximadamente esses:
Coloca-se uma toalha branca e decora-se com ramalhetes verdes toda a mesa. Essa decoração da mesa com ramos, que geralmente são espigas de trigo, é para lembrar o “Korban Haomer”, no segundo dia de Pessach, a oferenda do Ômer (da nova colheita de cevada) era trazida ao Templo Sagrado, em Jerusalém.
Alguns costumam acender velas sobre a mesa. Um prato grande e fundo com uma massa especialmente preparada de trigo com óleo e água, sendo essa mesma massa posteriormente servirá para fazer os novos pães. Moedas de prata e ouro são enfiadas dentro da massa, na esperança de ver seus pedidos se multiplicarem como a massa que fermenta; alguns costumam colocar seus anéis de casamento e desejar que venha o filho tão esperado, em breve e com saúde. Leite, mel, manteiga, frutas secas e doces diversos também compõem esta linda mesa.
O peixe é tradicional em Minona, lembra fartura e tem sua ligação com a travessia do mar vermelho; alguns costumam colocar peixe vivo dentro de uma bacia com água. E Minona não é Minona sem as tradicionais mufletas, pequenas rodelas de massa assadas e banhadas em mel e manteiga.
Para quem pergunta, assim como eu, como é possível fazer todos esses quitutes em tão pouco tempo (uma hora após a saída da Páscoa e a chegada dos visitantes), já que em Pessach é proibido ter chametz em casa, e muita dessas delícias levam trigo, aqui vai uma resposta. Primeiramente, devemos acabar de uma vez por todas com a idéia errônea de que, depois do meio-dia do sétimo dia de Pessach, já se pode deixar entrar trigo em casa; isso é totalmente errado e estaríamos cometendo o pecado de ter chametz em casa, em pleno Pessach. No Marrocos, o que acontecia, é que os árabes, já conhecendo nossas festas, preparavam as espigas de trigo, o próprio trigo, a manteiga e levavam para vender aos judeus nos “melahs” ao findar o Chag. Com o material em mãos, as donas de casas, com impressionante habilidade, corriam para preparar seus quitutes. Hoje em dia, os judeus na Diáspora, também podem adquirir dos goim sem muita complicação, mas se quiserem, podem fazer como algumas donas de casa fazem em Israel: aqui, aonde deveria ser um pouco mais complicado já que não temos o goi, o problema foi solucionado com o preparo de todas as massas necessárias antes de Pessach e vendendo-a ao goi através da “venda do chametz”, logo, uma hora após a saída do Chag, esse material é retirado do lugar que foi fechado, antes da Páscoa, e já pode ser usado para Minona.
Minona tornou-se uma festa nacional em Israel
Os judeus do Norte da África, depois que fizeram sua imigração para Eretz Israel nas décadas de 50 e 60, continuaram comemorando a Minona, em família. Em 1966, aconteceu a primeira tentativa de fazer Minona de maneira mais ampla e popular. Com os anos, os festejos da saída de Pessach se espalharam por todo o país. Hoje em dia, Minona é comemorada em cerca de sessenta cidades e, principalmente na capital, Jerusalém, com a presença do Primeiro Ministro, do Presidente e de outros inúmeros políticos. Na verdade, este caráter político tornou a festa de Minona bem menos original, e fez com que perdesse o seu brilho mágico incomum.
De qualquer maneira, seja qual for o seu costume, a sua maneira de fazer e comemorar Minona, não podemos deixá-la acabar, essa tão especial e tradicional festa, que outrora pertenceu aos judeus norte-africanos, mas, que hoje em dia, é comemorada por todos os israelenses e inúmeras comunidades na Diáspora.

Depois deste breve resumo, sigo para Dimona, uma cidade fundada em 1955. Na jornada, ao passar rapidamente por Beer Sheva, há 35 km da cidade Dimona, ao sul do país, entrevistei um jovem de origem judaica marroquina, chamado Daniel Chocon, que estuda engenharia na universidade local. Este me contou como se festeja Minona em Dimona, sua cidade natal, famosa pela hospitalidade. Hoje em dia, vivem cerca de 22 mil judeus nesta cidade, sendo destes, 10 mil judeus de origem marroquina. Muitas vezes, ao andar e passear em Dimona, nos sentimos como nas ruas de Marrocos, porém isso se quebra por vermos muitos russos, latinos, etíopes e etc. A cidade recebe suas primeiras citações no livro do profeta Josué.
Chegando, fui recebido pelo jovem Matan Vaknin, que prontamente me levou nas casas onde a festa acontecia, e acreditem, em muitas casas. A primeira casa foi da família Dahan. Para minha surpresa é uma família típica marroquina da cidade de Marrakesh, no noroeste do Marrocos. Havia muita gente na casa da matriarca, Janete Dahan, que me saudou com uma deliciosa mufleta e, na mesa, muitas frutas, flores, peixe, leite e, para minha completa alegria, a frijoela, outro doce marroquino.
Senhora Janette Dahan me ensinou, logo que cheguei uma frase que seria usada em toda minha estadia: “Tibahù vê tsiadù”. A mais interessante característica na casa da família Dahan, foi alegria em receber visitantes. Depois de varias mufletas, despeço-me indo para casa do Rabino chefe da comunidade de Dimona.
Fui prontamente recebido pelo Rabino Turgeman e, com um belo inglês britânico, começamos nossa entrevista. No decorrer, sua família mostrou-me, com muito carinho, vários objetos do Marrocos, de onde sua família saiu em 1953. Falei-lhe sobre as comemorações de 200 anos da presença judaica marroquina na Amazônia – Brasil e, para minha nova surpresa, ele me disse que conhece brevemente Kehilá e tinha muita vontade de sabe mais. Enfim, o Rabino Turgeman reafirmou mais uma vez as palavras do professor David, no seu artigo já mencionado que Minona é um chag shel emuná, e com esta declaração, ele manda um mensagem aos judeus da Amazônia: que tenham esperança como nossos antepassados tiveram no Marrocos, de um futuro longo e cheio de vida judaica, pois somente mantendo nossos costumes e nossa Tora, podemos passar, sobreviver e perpertuar em todos os tempos...
Ao me despedir do Rabino, conheci os jovens Shalom e Pinchas Malcon, com os quais me identifiquei imediatamente, não só pela fé, mas, também pelo fato de serem gêmeos bi vitelinos, tais como meu irmão e eu. Eles vivem em Dimona e contaram-me brevemente a história dos seus antepassados, mostraram-me um quadro de 150 anos, com uma representação da festa de Minona, seguido de fotos de sua família ainda no Marrocos, também foi uma lição de tradição e o olhar no futuro.
Por ultimo, chego à família Vaknin, onde muita música, tambores e bastante comida, mostrando o ritmo desta festa, que durou até cinco da manhã, terminando com a ida de todos os presentes para sinagoga, para a reza matutina.
Minha impressão foi única, realmente um carinho grande, pois em cada porta aberta naquela noite, entrava-se para ganhar em alegria, tradição e renovação da fé. Foi realmente “uma noite para lá de Minona”...
Obrigado a todos estas famílias que me receberam nesta belíssima celebração. Desejo que a cada ano, Minona tem mais significado para comunidade brasileira.

Agradeço à toda a equipe de fotografia, produção e edição desta reportagem pois sem eles não teria como proseguir neste minhas caminhadas pela terra Santa. vejo vocês nas proximas edições..até....

2 comentários:

  1. Ho amato da leggere la tua camminata su Israele così come i miei amici qui.fai un bel lavoro!
    Buonagiornata!
    Abbracci.:)))

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  2. Las fotos ,lo escrito e imagen.Se complementan muy bien.

    Buen trabajo.

    Desde Argentina,Liliana

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